Trem de passageiros ligará Três Rios a Cataguases no interior do estado.

Novidade deve atrair à primeira cidade cerca de 800 turistas por fim de semana

Lívia Neder || O Globo

Equipe do Movimento Nacional Amigos do Trem, que toca o projeto de reativação da rota Foto: Agência O Globo / Thiago Freitas

Rio — Com a expectativa de impulsionar o turismo em Três Rios, a retomada do trem de passageiros, ligando o município fluminense a Cataguases, em Minas Gerais, vem sendo aguardada com ansiedade pela população dos dois estados. Prevista para ser inaugurada em módulos a partir do primeiro semestre do ano que vem, a rota deve atrair para a cidade cerca de 800 turistas a cada fim de semana.

O projeto, desenvolvido pelo Movimento Nacional Amigos do Trem, era um sonho antigo do presidente da ONG, Paulo Henrique do Nascimento. Idealizador e captador de recursos para botar o trem nos trilhos, ele morreu há menos de um mês, deixando como legado a paixão pela ferrovia.

À frente da ONG até que nova eleição para a presidência seja realizada, Cyntia Nascimento conta que a paixão de Paulo Henrique pelo transporte ferroviário contagiou todos. Para viabilizar o projeto, foi injetado R$ 1 milhão, verba captada integralmente com a iniciativa privada.

— Os recursos para a compra do trem vieram de patrocinadores. O principal é o grupo Mil, do empresário trirriense Josemo Corrêa de Mello, que comprou essa ideia por amor à cidade e investiu R$ 700 mil. O trem já está pronto, em testes. Falta a conclusão da reforma da linha férrea, que está sendo feita pela concessionária VLI e depois será cedida para a associação — diz Cyntia.

O maquinista Carlos Araújo veio de Pernambuco para operar o trem Foto: Agência O Globo / Thiago Freitas

Com um trajeto completo de 168 quilômetros, a rota de turismo Rio-Minas vai ligar oito municípios, sendo dois fluminenses e seis mineiros. O primeiro trecho que vai entrar em funcionamento liga a estação de Três Rios à de Chiador, em Minas. O trajeto completo continua por Sapucaia, Além Paraíba, Volta Grande, Recreio, Leopoldina e Cataguases.

No comando do trem está o maquinista Carlos Araújo, que veio de Pernambuco especialmente para trabalhar no projeto turístico. Ele atuava como manobrador na Transnordestina e fez o curso de maquinista oferecido pela ONG.

— Era um sonho de todos e vim ajudar a realizá-lo. Trabalho com trens há 13 anos. É preciso ter muito amor pela profissão — diz Araújo, que tem tatuado no pulso a sigla RFFSA, da Rede Ferroviária Federal.

O trem passa por testes na Ponte Santa Fé: trecho que está sendo recuperado fica em ponto tradicional da cidade Foto: Divulgação/ONG Movimento Nacional Amigos do Trem

Enquanto o Trem Turístico Rio-Minas não é inaugurado, a linha férrea vem sendo recuperada para receber as composições. Atualmente, equipes da prefeitura realizam intervenções num trecho que abriga um dos cartões-postais da cidade, a Ponte Santa Fé, na divisa entre Três Rios e Chiador.

Parte da linha férrea e a estação ferroviária de Três Rios serão reformadas com recursos obtidos através de emenda parlamentar no valor de R$ 400 mil; o projeto total dessas duas obras custa R$ 2 milhões. De acordo com o secretário municipal de Governo e Planejamento, Bernardo Goytacazes de Araújo, a nova estação será construída no mesmo local da antiga e do pátio ferroviário da cidade.


O trem é testado no pátio ferroviário, ao lado da antiga estação, que será reformada Foto: Agência O Globo / Thiago Freitas

Três Rios já chegou a contar com quatro linhas de trem. A maior ligava São Paulo a Belo Horizonte, em Minas; uma anexa fazia a conexão Três Rios-Petrópolis; outra unia Três Rios ao interior de Minas que, após baldeação, chegava a Ouro Preto e Mariana; além da linha que será reativada agora, até Cataguases.

— Estamos fazendo uma série de ações de dois anos para cá, desde que recebemos o Paulo Henrique (ex-presidente da ONG Movimento Nacional Amigos do Trem, morto recentemente), que buscou apoio na prefeitura para reativar o trem. Fomos chamados de malucos — diz o secretário. — O primeiro desafio era ter um trem. Ele foi comprado pela ONG com recursos de parceiros e trazido da base operacional da Vale. Depois, chegaram duas locomotivas para manobrá-lo; uma logística complexa. Outra questão era o desmoronamento da linha, que estava descontínua. Com a concessionária VLI, nós a recuperamos e incentivamos um conjunto de ações para que o trem pudesse ser uma realidade.

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